15/04/09 - Reportagem do Globoesporte.com
LEMBRA DELE?
Com clube próprio, Edmar tenta desbancar Ponte e Guarani
Artilheiro cigano, ex-atacante comanda o Campinas na Terceirona de São Paulo e projeta ser a maior força da cidade nos próximos anos
Carlos Augusto Ferrari
São Paulo
Na década de 70, Campinas chegou a ser chamada de "capital do futebol". Ponte Preta e Guarani duelavam em igualdade de condições com os times da capital paulista e mostravam ao Brasil a importância do interior de São Paulo. Mais de 30 anos depois, Macaca e Bugre não possuem nem de longe o mesmo prestígio. Mas é apostando na tradição campineira de revelar craques que o ex-atacante Edmar sonha em transformar um pequeno clube na mais nova força da cidade.
Ao lado do também ex-jogador Careca, Edmar fundou no dia 1 de janeiro de 1998 o Campinas Futebol Clube, um ambicioso projeto para criar um terceiro clube em Campinas e produzir novos atletas. Após 11 anos, o antigo companheiro de Maradona no Napoli deixou a equipe, mas o sonho de colocar o Águia na elite do futebol paulista continua vivo.
- O Careca foi se dedicar a outros projetos e eu fiquei com o Campinas. Ainda somos sócios em outros negócios e nossa amizade continua forte como antes – afirmou o presidente Edmar Bernardes dos Santos, natural de Araxá-MG, e agora com 49 anos.
Restando três rodadas para o final da primeira fase da Série A-3 do Campeonato Paulista (Terceira Divisão), o Campinas é o décimo colocado. A equipe chegou a liderar a competição, mas despencou na tabela e precisa terminar até o oitavo lugar para avançar. Caso consiga o acesso, vai enfrentar o Guarani, rebaixado para a A-2. Seria o primeiro encontro oficial do clube com um dos “vizinhos”.
Distintivo do Campinas carrega a águia, mascote do clube do interior paulista Apesar da posição intermediária na classificação, Edmar confia que, com o tempo, o Campinas estará brigando diretamente com Ponte e Bugre. Pelo menos na cidade, o ex-atacante já conseguiu dividir o empresariado. Com a ajuda de comerciantes, gasta aproximadamente R$ 100 mil (R$ 65 mil só com o profissional) para manter o clube. E se orgulha em não acumular dívidas.
- Seguramente, estaremos, no futuro, disputando para ser o melhor time de Campinas. Podemos chegar muito longe com o planejamento que elaboramos. Sempre faço as coisas com os pés no chão. O Campinas não atrasa seus salários e não tem nenhuma ação trabalhista. Os gastos são muitos, mas tenho algumas pessoas que me ajudam e que participam do projeto – revelou.
Assim como qualquer outro time brasileiro, o Campinas depende da negociação de seus jovens atletas para sobreviver. De lá saíram os atacantes Danilo Neco, destaque da Ponte Preta no Campeonato Paulista, e Jeda, atualmente no Cagliari-ITA. Para o futuro, Edmar aposta nos meias Alan e Caio.
- Não dá para ficar prendendo o jogador. A solução é sempre negociar e colocá-los nas vitrines do futebol. Temos jogadores nas categorias de base de boa parte dos grandes clubes do país. É só com esse tipo de parceria que você consegue sobreviver e manter o negócio vivo – disse.
Edmar, o artilheiro cigano
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Como dirigente, Edmar é tão ambicioso como quando jogador. Com 17 anos, foi artilheiro do Campeonato Brasiliense, pelo Brasília, com 15 gols. No ano seguinte, repetiu a dose, com nove marcados. O desempenho chamou a atenção do Cruzeiro, que o comprou e o repassou por empréstimo ao Taubaté. Logo na temporada de estreia, em 1980, se transformou no goleador máximo do Paulistão, com 17 gols.
- O que eu consegui com o Taubaté foi algo histórico. Fui artilheiro do campeonato mais disputado do país por um time que lutava contra o rebaixamento e superei feras como Serginho Chulapa, Careca, Sócrates e outros. Aquele foi o momento mais marcante da minha carreira. O que veio em seguida só confirmou o que eu fiz em 80, com apenas 20 anos – lembrou.
Edmar, aliás, conseguiu repetir o sucesso em outros clubes. Em 1985, foi artilheiro do Campeonato Brasileiro pelo Guarani, com 20 gols. Dois anos depois, liderou a lista de artilheiros do Campeonato Paulista, com 19 anotados, jogando pelo Corinthians. Em 84, foi o goleador do Flamengo na Taça Libertadores.
- Eu era um atacante oportunista e gostava de simplificar tudo. Com certeza, fiz mais de 500 gols na carreira. Hoje, você vê o atacante dificultando muito as coisas. Quando é para chutar, ele quer driblar. Alguns atacantes têm cheiro de gol. Outros fedem (risos) – brincou.
O atacante, entretanto, só não conseguiu fugir da fama de cigano do futebol. Foram 14 times na carreira: Brasília, Taubaté, Cruzeiro, Grêmio, Flamengo, Guarani, Palmeiras, Corinthians, Pescara-ITA, Atlético-MG, Santos, Comercial-SP, Bremel Sendai-JAP e Campinas.
- Eu era meio chato para contrato. Exigia aquilo que eu achava que merecia. Na hora de renovar, pedia o que valia, principalmente por fazer muitos gols. Às vezes, não tinha acordo, mas sempre algum time estava me querendo, uma porta se abria – explicou.
Amizade com Romário e Zico
Zico: boa parceria com Edmar Um dos pontos altos da carreira de Edmar foi disputer os Jogos Olímpicos de 1988, em Seul, na Coréia do Sul. O Brasil ficou com a medalha de prata no futebol ao perder para a extinta União Soviética na decisão. Mesmo assim, ele não esquece a convivência com o baixinho Romário.
- Ele era fabuloso, um dos maiores dentro da área. Foi muito bom jogar com ele. A convivência também sempre foi muito boa. Ele tinha suas particularidades, nunca gostou muito de treinar fisicamente. Era um sacrifício para ele. Mas, dentro da área, era fantástico – opinou.
Edmar também recorda com carinho e admiração o pouco tempo de trabalho que teve com Zico, no Flamengo.
- O Zico estava vendido para a Udinese e o Flamengo usou o dinheiro para me comprar do Cruzeiro. Jogamos pouco juntos. Mas, quando ele estava voltando, deu uma entrevista dizendo que o centroavante que mais tinha se encaixado no jogo dele era eu. Meu ego foi lá para cima. Ouvir isso dele foi uma honra. Fiquei muito feliz.
Ronaldo e Kléber Pereira: os melhores no momento
Marcos Ribolli/GLOBOESPORTE.COM
Ronaldo em ação contra o São Paulo Analisando os finalistas do Campeonato Paulista, o ex-atacante faz elogios a Ronaldo, mas também é fã de Kléber Pereira, do Santos. Keirrison, Washington e Borges também estão em alta com o antigo goleador.
- O Keirrison está oscilando, mas é normal pela idade. O Washington é um goleador nato. Outro que gosto de ver é o Borges. O Kléber Pereira, com certeza, estaria entre os artilheiros se as contusões não tivessem aparecido. Já o Ronaldo é um fora de série. Ele ainda precisa perder peso, mas é um cara diferenciado. Só de tocar na bola você já percebe – completou.
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